quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Médico atropelado por motorista de ônibus pede justiça


Raimundo Pereira da Silva recebeu uma equipe do G1 no quarto do hospital.
Ele, a irmã e a esposa, grávida de 7 meses, foram atropelados na Bahia.


O médico Raimundo Pereira da Silva Filho, que foi atropelado por um motorista de ônibus após uma discussão de trânsito em Lauro de Freitas, região metropolitana de Salvador, recebeu a equipe do G1 e da TV Bahia na noite de quarta-feira (30), no Hospital Aliança, na capital, onde se recupera do acidente.


Em pouco mais de cinco minutos, a vítima contou sua versão dos fatos, falou da necessidade de capacitação dos motoristas e fez o pedido para que "a justiça seja feita". 

"O que aconteceu de fato foi que eu resolvi sair de férias com minha família, minha mãe, minha filha, levei meu cachorro, minha esposa, saímos em dois carros. Quando estávamos indo para a Praia do Forte, na saída de uma curva, meu carro sofreu uma colisão traseira, perdi a direção do carro, mas consegui controlá-lo a tempo de estacionar e ver os danos que foram ocasionados. Nesse momento eu saí do carro, minha esposa parou à frente e o ônibus parou atrás de mim", contou. Segundo a vítima, em momento algum o condutor do ônibus saiu do veículo.
"Saí do carro e vi que tinha sido um choque banal e que a perda da estabilidade havia sido porque tinha acabado de sair de uma curva. Eu percebi que ele não iria sair do carro e eu não tinha interesse nenhum em fazer boletim de ocorrência, porque eu queria realmente descansar com minha família , diz. "Eu tava com minha mãe de 72 anos em um carro e minha filha de um ano e sete meses no outro carro, aí comecei a tirar foto. Por que foto? Para levar até a seguradora e deixar pra eles resolverem", salientou. 
Segundo o médico, quanto tentava tirar as fotografias, o condutor do ônibus começou a ficar nervoso. "Eu percebi que havia alguma coisa estranha, aí minha esposa veio falar comigo. Nesse momento ele acelerou, ele ia pegar minha esposa, que está grávida de sete meses. Aí eu empurrei minha esposa. E nesse empurrão ele me pegou, me imprensou e me jogou do outro lado, à frente do carro", disse.
Médico, irmã e esposa grávida são atropelados por motorista de ônibus bahia (Foto: Antônio Tanure  / Arquivo pessoal)Médico, irmã e esposa grávida são atropelados por
motorista de ônibus bahia (Foto: Antônio Tanure /
Arquivo pessoal)
Desabafo

"A gente tá vivendo a cada dia que passa em uma sociedade que não respeita as leis. E pessoas estão sofrendo, as pessoas estão morrendo com isso. Hoje foi eu, amanhã é outra pessoa, e assim vai. Quer dizer, uma pessoa dessa, que atropela três, quatro, porque tinha um bebê, também, quase mata minha bebê. Essa pessoa será que não vai pagar nada por isso? Será que a sociedade vai ver de novo nada acontecer?", diz.

Ele ainda falou da capacitação profisisonal dos motoristas. "A gente ver diariamente ônibus fechando carro, carro fechando ônibus, mas sobretudo os motoristas de ônibus, eles realmente precisam ter um treinamento para que não aconteça esse tipo de acidente. É só vermos os danos que eles tem causado na nossa população".
Entre as lesões, o médico teve fratura de cotovelo, de perna, lesão de ligamento e fratura de 12 vertebras da coluna cervical toráxica. Segundo ele, os médicos deram uma previsão de recuperação de aproximadamente um ano. "Aquilo que eu tinha planejado para 2013, está planejado pra 2014. Eu perdi todos os meus plano por causa de um irresponsável que tinha uma carteira de motorista nas mãos. Eu ainda acredito na justiça da bahia e na justiça de Deus", finalizou.
"Fiz parte de um acidente"

O motorista suspeito de atropelar propositalmente o médico e as duas mulheres afirmou que a situação foi um acidente.

"Fiz parte de um acidente de trânsito", disse Jocival Pinto ao ser encaminhado para depor na 23ª Delegacia, onde está preso desde o início da tarde da terça-feira (22).
O depoimento do rodoviário ao delegado Joelson Reis durou cerca de duas horas. Na saída, ele conversou com a imprensa e explicou que não viu o acidente. "Eu me senti ameaçado e saí de forma rápida, me envolvi no acidente. Até porque eu tento colaborar com a sociedade e, em nenhum momento, tentei interromper a vida do meu semelhante. Não foi de propósito", garantiu. Ele ainda afirmou que tentou sair rápido do local por se sentir vítima, justificando que "o trânsito hoje em dia está muito violento".
De acordo com o delegado Joelson Reis, o suspeito alegou inocência. "Ele atribuiu [o atropelamento] a um erro de cálculo dele e é essa a defesa. O que aconteceu foi que o veículo [das vítimas] foi abalroado no para-choque, carro esse que é da esposa, quando soltaram todos para fotografar", disse.
A partir disso, segundo o delegado, os dois, motorista e médico, teriam discutido com gestos e o condutor do ônibus deixou o local de forma violenta, esmagando as vítimas. Joelson Reis afirmou que o suspeito disse ter deixado o lugar do acidente de forma abrupta, mas sem intenção.
Testemunhas teriam dito à polícia que ele jogou o carro em cima das vítimas de maneira violenta. "Ele [motorista] disse que, quando saiu, a lateral teria imprensado as vítimas. Estranhamente, ele não parou e evadiu. Por isso, ele vai ter que explicar por que deixou de socorrer as vítimas logo após ter tomado conhecimento do fato", indicou o titular da 23ª Delegacia.
O suspeito foi indiciado por tentativa de homicidio qualificado de três vitimas, com motivo fútil,  agravado pelos fatps de uma das vítimas ser gestante e por ele ser motorista profissional. "Ele tem que estar preparado para evitar esse tipo de acontecimento", ressaltou o delegado. Após ser decretada a prisão preventiva, o suspeito permanecerá custodiado na delegacia, onde ficará á disposição das recomendações da comarca da Justiça em Lauro de Freitas.
Versão de testemunhas
Cerca de cinco testemunhas estavam no coletivo no momento do acidente. Segundo o titular da 23ª Delegacia, um deles, que também é motorista de ônibus, prestou depoimento à polícia e contou acreditar que o suspeito não teria cometido o ato de propósito.
A irmã do motorista suspeito de cometer o atropelamento, que esteve presente na delegacia na terça-feira, também afirma que o rapaz é inocente.
"Ele não é disso, nunca teve passagem na polícia. Nós estamos aqui para esclarecer que o que está sendo falado não é verdade, que ele não acelerou o carro em cima de ninguém", disse a mulher, que preferiu não se identificar. O cobrador que trabalhava no ônibus no momento do acidente também esteve na unidade policial, mas não quis falar com a imprensa e deixou o local rapidamente.
Cobrador
O cobrador do ônibus conduzido pelo motorista que atropelou o médico, a irmã e esposa grávida dele, falou na sexta-feira (18) sobre o caso à TV Bahia. Segundo ele, não houve discussão entre as vítimas e o condutor antes do atropelamento. "Hora nenhuma ele [vítima] discutiu com o motorista", disse o cobrador do ônibus.
O delegado Joelson Reis, que investiga o caso, contou que o motorista deverá responder por três tentativas de homicídio, já que atingiu três pessoas. Na sexta-feira (18), três testemunhas do caso foram ouvidas pela polícia e confirmaram a versão de que não houve motivo para a reação violenta do condutor. “Uma [testemunha] estava no carro, a babá da criança, outro é morador do local, mora em um prédio em frente de onde aconteceu, e outro estava passando no carro e viu toda a situação. Todas elas corroboraram com a investida do motorista”, explicou o delegado. O delegado informou que as imagens do circuito interno do veículo foram solicitadas pela polícia à empresa, que afirmou que elas serão liberadas nos próximos dias.
Empresa

A empresa proprietária do ônibus coletivo disse, em nota, que está prestando a devida assistência às vítimas. Segundo o documento, o motorista foi afastado de sua função. Confira abaixo a íntegra:

"A empresa Via Nova lamenta profundamente o acidente ocorrido na última segunda-feira (14/01), na Estrada do Coco, em Lauro de Freitas, e informa que, tão logo foi comunicada do fato, a diretoria determinou total assistência às vítimas e aos seus familiares.
A empresa também salienta que está à disposição das autoridades competentes para prestar as informações pertinentes, que o funcionário foi afastado e vai aguardar a conclusão do inquérito policial já instaurado."
O caso

O médico ortopedista Raimundo Pereira da Silva Filho, sua esposa Nirlana Teixeira e a irmã do médico, a advogada Arli Patrícia Silva, foram atropelados pelo motorista na segunda-feira, em Lauro de Freitas.

De acordo com o advogado da família, Antônio Tanure, primeiro aconteceu um acidente de trânsito, o motorista de ônibus bateu no fundo do carro onde estavam o médico e a irmã dele. "A esposa seguia em outro carro, logo à frente. Ela viu o acidente com o ônibus e decidiu descer para apoiá-los. Eles resolveram fotografar o acidente para apresentar para a seguradora de veículos, quando o motorista do ônibus ficou irritado e acelerou para cima deles”, disse o advogado.


Raymundo Pereira da Silva conseguiu salvar a mulher, que está grávida de sete meses, mas foi atingido e levado por uma equipe de socorristas para o Hospital Aliança, onde segue internado. A esposa teve escoriações leves, foi atendida no local do acidente, passou por exames, e ela e o bebê passam bem. Já a advogada Arli foi encaminhada para o Hospital Geral do Estado (HGE) e transferida para o Hospital Santa Isabel.

Nenhum comentário:

Postar um comentário